GESTÃO LEGAL – Quando a cultura societária é a estratégia do negócio

GESTÃO LEGAL – Quando a cultura societária é a estratégia do negócio

Quando falamos em estratégia na advocacia, quais os passos, ambientes, cenários, ameaças e oportunidades? Adnilson Hipólito é sócio-fundador da Hipólito Consultores, de Londrina (PR), com atuação como consultor especialista em Gestão Legal em cerca de 300 sociedades de advogados em todo o País.

Para ele, a palavra de ordem é planejamento. “O ambiente deve ser de profissionalismo, integração e doação do time numa sociedade de advogados. É assim que uma firma jurídica tem possibilidades de crescimento”. Ao priorizar o que é o melhor para o cliente, Hipólito reforça que o advogado tem a obrigação de tangibilizar o conhecimento para um novo modelo de advocacia onde o cliente não necessita somente de um advogado na palavra fria da letra, mas de um consultor jurídico setorizado ou segmentado.

Abrindo nossa série sobre Gestão Legal e Mercado Jurídico, confira nossa entrevista exclusiva com o especialista em estruturação e planejamento de finanças, mercado e clientes.

SB-Dos pilares cruciais para o escritório (pessoas, produção, marketing jurídico e finanças), como os sócios podem proteger/cumprir o escopo, o cronograma e o orçamento do planejamento traçado para a banca?

A sociedade (sócios) deve priorizar o ponto estratégico do negócio. Eu trabalho muito a cultura societária e esse é o maior desafio de uma sociedade, pensar estrategicamente e compreender que os sócios é que fazem a evolução da banca. A gestão faz parte não do dia a dia, mas da agenda do advogado.

SB-Da capacidade de correr riscos calculados, do nível de inovação e da gestão adotada. O chamado plano de ação ainda é perdido pela falta da formação empreendedora?

Sim, um plano de ação é simples na construção, mas deve ser eficiente na execução para gerar o resultado esperado ou a presunção desse resultado. Existem vários modelos de planos de ação e um dos mais utilizados é o 5W2H. O risco calculado é quando o advogado sabe o que precisa ser feito, vai, faz e sabe as consequências que podem ocorrer. A grande diferença é que ele está preparado para o risco e os outros não.

SB-Da advocacia como negócio, pensada e planejada, incluindo a gestão organizacional, financeira e empreendedora. Aos acadêmicos de Direito – restritos ao conhecimento técnico, doutrinário, legal e jurisprudencial de todas as áreas jurídicas: como se dá a virada para o mercado?

Com o acadêmico de direito indo ao encontro do conhecimento da administração para gerir o seu escritório de advocacia ou a sua carreira com planejamento, objetivos, metas e foco. Essa é a diferença – conhecimento da gestão, simples assim. A minha experiência ao trabalhar com jovens advogados e escutar e aprender com os experientes diz isso.

SB-Tempo, produtividade e rentabilidade. Por que a tecnologia ainda assusta parte dos profissionais atuantes no mercado? Será o fim da advocacia causada pelo uso de robôs e outras plataformas tecnológicas?

É preciso estar preparado para uma revolução tecnológica. Veja por exemplo a informatização do judiciário, processo eletrônico e escritórios de advocacia cada vez mais investindo em soluções tecnológicas. A Inteligência Artificial (AI) mudará bastante o modelo de atuação de escritórios que trabalham com Pessoa Física, isso é fato, basta conhecer o poder de transformação que os robôs estão causando. Mas tenho a certeza que a pessoalidade nunca acabará, assim como o papel nunca deixará de existir.

SB-O avanço tecnológico na esfera jurídica X a substituição da mão de obra por soluções artificiais. O uso da tecnologia não está justamente na garantia da qualidade do tempo para a tomada de decisões do advogado?

A tecnologia, leia-se IA, proporcionará ao escritório muitos ganhos e o maior deles são dois: tempo e satisfação do cliente (em coisas óbvias que não são feitas) como uma simples informação mensal ao cliente do seu processo.

SB-Dentro das organizações vemos diversos níveis de atividade – estratégico, tático e operacional. Como a Gestão Legal pode garantir aos sócios e equipe questões como atividades operacionais de alta complexidade, manutenção de clientes ativos, produção intelectual, sustentabilidade do escritório e crescimento profissional?

Pessoas precisam ser treinadas. O time necessita de conhecimento especifico e deve ser integrado ao planejamento do escritório e essa cultura infelizmente ainda não acontece, não é realidade dentro dos pequenos e médios escritórios, e diria até nos grandes, dependendo da região.

Existe um percentual significativo de potenciais escritórios dentro dessa classificação (pequenos e médios) que precisam levar muito a sério a Gestão Legal. É assim que eles se tornarão maiores dentro dos seus objetivos.

SB-Fale da sua realidade local. Percepções sobre os impactos e desafios da Gestão Legal aos escritórios da sua região.

Gosto muito de falar do interior. A advocacia aqui é extremamente carente e necessita urgentemente de apoio (cursos, palestras, seminários e assessorias) em gestão. O Brasil está crescendo para o interior e entendo que a OAB/ESA/CAA devem investir e se programar nesse sentido.

Cabe perfeitamente a seguinte pergunta: os escritórios menores estão nos eventos de gestão no eixo Rio-SP? Não estão, lá é só para os grandes. E como ficam os pequenos e médios com grande potencial?

 Adnilson Hipólito

(Por Alessandro Manfredini)

Fonte : Estratégia na Advocacia